O neurocientista Roberto Lent cobra mais investimento e integração na elaboração de políticas públicas educacionais
RIO - Alunos sedentários têm mais propensão a ter dificuldades no aprendizado? Até quanto tempo um professor consegue prender a atenção dos estudantes? Qual é o melhor horário para o início da atividade escolar? O neurocientista Roberto Lent, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor pelo MIT, buscou responder estas e outras questões na mesa "(Neuro)ciência para a educação" do congresso internacional Educação 360, ao explicar como estudos científicos de pesquisas translacionais podem aprimorar o aprendizado de crianças e jovens.
O Educação 360 é promovido pelos jornais O GLOBO e
Extra com patrocínio de Sesi, Fundação Telefônica, Fundação Itaú Social,
Instituto Unibanco e Colégio pH, apoio de Fundação Cesgranrio, e apoio
institucional de TV Globo, Canal Futura, Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, Unesco, Unicef e Todos pela Educação.
Lent cita como exemplo de falta de pesquisa
científica o caso da polêmica envolvendo a medida provisória promulgada pelo
presidente Michel Temer em setembro de 2016, que retirava da Lei e Diretrizes
Base da Educação (LDB) a garantia explícita de algumas disciplinas já
consolidadas (artes, educação física, filosofia e sociologia). O tópico fora
removido pelos parlamentares durante sua tramitação no Congresso Nacional.
A intervenção foi absolutamente sem base
científica, e isso resulta numa taxa de risco mais alta, com resultados que só
poderiam ser vistos dez anos depois. Se os governantes tivessem consultados os
especialistas, saberiam que existem diversos estudos confirmando que atividades
físicas favorecem o aprendizado.
O pesquisador exemplifica a tese com estudos
internacionais que tratam sobre o tema e já foram realizados em animais.
Você coloca o animal para se exercitar e depois
olha uma região do cérebro chamada hipocampo, relacionado às memórias, ou seja,
altamente ligado à aprendizagem. É possível ver também que o número de
neurônios aumenta nessa área dos animais corredores em relação aos animais
sedentários — explica.
Outra pesquisa apresentada por Lent versa sobre
qual o melhor horário para a fixação do aprendizado por parte do aluno. O
estudo aponta que os seres humanos se subdividem em dois tipos: matutinos e
vespertinos. Baseado nessas características, o cientista afirma que é o atual
modelo, que os alunos começam as atividades a partir das 7h, é ineficiente do
ponto de vista da aprendizagem.
Cerca de 80% da sociedade é vespertina. Mas quando
é que as pessoas estão mais aptas? Esses mesmos 80% dizem que é a partir das
10h, e isso significa que temos que pensar num tipo de gestão que leve em conta
na rotina escolar a cronobiologia dos alunos em cada idade – constata.
O Brasil ainda ocupa as últimas posições no principal
indicador de educação mundial, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos
(Pisa). O médico é pessimista em relação à melhoria do índice caso os gestores
persistam em manter uma política educacional conservadora.
Esses exemplos nos mostram que deveríamos ter
grande investimento do Brasil em favor da pesquisa translacional no Brasil para
a educação. Se tivermos vontade política e recursos, talvez em 2060
alcançaremos os países da OCDE, mas a nossa hipótese é que a ciência para
educação for realmente implantada isso já possa acontecer em 2030.
Fonte: O Globo
Um jeito diferente de ensinar e aprender.
Valdivino Sousa é Professor, Matemático, Contador, Bacharel em Direito, Pedagogo e Mestrando em Educação. Editor do blog Valor X Matemática News, e escreve sobre: Educação Matemática, Didática e TICs na Educação. E-mail: valdivinosousa.mat@gmail.com 🖼Instagram: @valdivinosousaoficial 🔯Veja Biografia