É
difícil aprender Matemática ou é mito? A velocidade em que as
mudanças no conhecimento vem acontecendo, aponta para a necessidade de que cada
pessoa tenha seu senso critico cada vez mais bem formado, visto que tais
mudanças podem ser consideradas contínuas e irreversíveis. Desde a mais tenra
idade o senso crítico deve ter sua iniciativa de construção despertado, de
forma que tal iniciativa possa acompanhar e evoluir em qualquer cidadão por
toda a vida. Dentro dessa linha de pensamento, é possível afirmar que o sistema
de ensino deve levar em consideração a responsabilidade que mestres e tutores,
por assim dizer, que são os maiores responsáveis pela formação atuante nesta
questão, não se esquecendo também das mais diferentes formas de aprendizado e
ensino por e para qualquer cidadão.
Questiona-se muito a forma
como o aluno chega em seu estágio superior de aprendizagem, diga-se de
passagem, com uma vasta lacuna nos principais, e por que não dizer, nos
fundamentos mais básicos da ciências exatas! Há de se ressaltar que há mestres
e doutores que relacionam a falta de aperfeiçoamento de técnicas que despertem
nos alunos, o interesse pelas aulas, em especial na disciplina de matemática.
Por outro lado, existe uma corrente de pensadores que identificam uma classe de
alunos, que “não querem saber de nada”, na consideração que induz a
obrigatoriedade de frequência escola, pois enxergam o ensino como algo fora de
sua realidade. Há ainda um segmento que considera em matemática por exemplo,
cálculos que são realizados sem saber o porquê, pois inexiste uma situação,
principalmente do cotidiano, que os justifiquem de forma concreta e atraente,
induzindo ao pensamento sintomático de antipatia pela matéria. Há de se
considerar ainda, que a falta de um trabalho que induz ao interesse e
principalmente à criatividade, assim como o despreparo dos mestres nesta
matéria ao ensinar, tem como consequências que vemos hoje na maioria das salas
de aulas.
A educação matemática, além de
atribuir um lugar de destaque à escola enquanto local primordial de educação –
enfatizando a sua importância no mundo moderno – também torna evidente o
caráter redentor da educação escolarizada, em consonância com o saber
matemático completa a preparação do cidadão: o elemento-chave para preparação
do cidadão no mundo moderno é a matemática e, como tal, ele é a peça essencial
dos sistemas escolares.”(D’AMBRÓSIO, 2001).
Nos últimos tempos, registra-se que o
ensino em matemática baseado em fórmulas e técnicas que não levam a construção
do conhecimento, resultam no caráter de mero reprodutor de conhecimentos, de
fórmulas prontas, conceitos pré-determinados, sem que se conheça o “como”, “de
que forma”; e a pergunta que nunca se cala! “Onde eu vou utilizar isso”!
“Os alunos se dispersam quando o
ensino da matemática se faz rotineiro, ocultando consciente e inconscientemente
sua verdadeira força e beleza, complicando-a inutilmente com fórmulas que não
sabem de onde vem. O ensino tem que alcançar uma investigação em que o aluno
sinta a sensação de estar fazendo algo com isso, em que se sinta mais confiante
colocando em prática o seu trabalho efetivo com isso, faça-o perceber o seu
próprio rendimento.” (MACHADO, 1992)
Se por um lado, toda abordagem em
termos de ensino feita diretamente no sentido lógico do conhecimento, não é
necessariamente, digamos assim, a melhor abordagem para a efetiva concepção de
aprendizagem, por outro lado, quando se considera os principais aspectos psicológicos
dos alunos de forma geral, ou quando valorizamos o seu processo de
aprendizagem, somados à criatividade e conhecimento dos que ensinam, iremos
valorizar o seu saber com relação ao objeto de conhecimento, temos ai, maior
chance de sucesso. Na contramão desta descritiva, há de se considerar que boa
parte dos educadores realizam seus trabalhos da forma mais tradicional
conhecida, sem procurar ou destacar a arte do conhecimento, e que infelizmente
também não valorizam ou mesmo não conhecem os processos de aprendizagem,
interferindo de forma negativa em seu aproveitamento, culminando com a
caracterização maior das dificuldades em qualquer âmbito. Para que se chegue a
linguagem formal e rigorosa, tão importante em qualquer área do conhecimento,
não só na matemática, é necessário valorizar, num primeiro momento, a linguagem
natural do aprendiz ainda quando criança, e para que se chegue aos conceitos
cientificamente elaborados é necessário valorizar, como ponto de partida, os
conceitos que já se tem sobre os objetos de conhecimento. Só assim podemos
transformar nossos alunos em cidadãos que saibam utilizar-se de seus
conhecimentos para construir uma sociedade digna que respeite e dê valor à
educação, tão importante para o sucesso e progresso de uma sociedade.
OS
CONCEITOS PRIMORDIAIS DE APRENDIZAGEM
Em qualquer sistema de ensino
priorizado pelos mestres do ensino existe, por assim dizer, uma maneira que
podemos denominar como predominante na forma de ensino/aprendizagem! Todavia,
nenhuma forma em si identifica a maneira concreta ou correta de aprendizagem,
pois há de se levar em conta que existe um vácuo imenso entre o processo de
aprendizagem e a dinâmica de ensino pelos que a exercem, de difícil previsão e
concepção. Assim sendo, é necessário que os profissionais acadêmicos
compreendam que existem princípios fundamentais na concepção do ensino,
independente da área específica de atuação; e que também independente de novas
formas e maneiras de proporcionar a ênfase da aprendizagem, são princípios que
são estudados desde a muito tempo, por mestres que buscam incessantemente
desvendar a magia na parceria ensino/aprendizagem. Em detrimento até de ver e
conceber a aprendizagem, durante séculos, estabeleceu-se etapas significativas
no processo evolutivo da educação, chamados dignamente de conceitos.
CONCEITO
HISTÓRICO CULTURAL
De acordo com Bittencourt (1994), a
ideia original ou conceito que se identifica como Histórico-Cultural e o
processo de aprendizagem estão coligados ou relacionados desde o nascimento do
ser humano. O processo de desenvolvimento não é tão previsível como se pensava,
ou mesmo universal e linear; em contrapartida ele seria construído no contexto,
na interação com a aprendizagem. Tais processos, tidos como desenvolvimentos
elementares originam-se biologicamente e suas funções psicológicas superiores
são de origem socioculturais, cujas raízes são consideradas históricas. A
significância do conhecimento é social, sendo determinado pelas relações
humanas, deixando de existir em si mesmo. Parte-se do princípio que tudo que
envolve a realidade humana é originária nas relações sociais ou socioculturais
do convívio. A percepção do conhecimento está diretamente ligada às relações
sociais da sua época, dá-se do plano social para o individual. Há de se considerar
ainda, que a linguagem tem papel predominante na formação do conhecimento
humano em sua consciência em si, que não é inata e nem resultado de ações
propriamente pessoais, e sim influenciada pelo meio. Neste quesito, é
interessante que o mestre seja identificado como o que leva ou levará o
aprendiz à busca pelo conhecimento, sem que se despreze o que já aprendeu ou o
que já sabe, oriundo de seu histórico de aprendizagem, induzindo-o inclusive a
descobrir o que circula em torno do seu convívio sociocultural, produzir,
criar, ser crítico nas situações do seu cotidiano, aprimorando seus
conhecimentos acumulados historicamente.
CONCEITO
CONSTRUTIVISTA
De acordo com Lima (1984), tal ideia
original ou conceito, todo ser humano não nasce com conhecimento, e nem o
adquire através do meio. Trata-se na verdade de um processo de construção
permanente através do desenvolvimento da pessoa em si, identificado por
processo de desenvoltura e por fases pré-estabelecidas. Tal processo é baseado
nos progressos em desenvolvimento, que não o influencia e nem o direciona,
ocorrendo somente ao atingir determinado nível de desenvolvimento, tratando-se
portanto de uma maturação biológica das estruturas cognitivas sob o ponto de
vista construtivo. Considera ainda, que toda pessoa é estruturada com
mecanismos próprios, independente do seu convívio social, dependendo
diretamente da sua maturação biológica, partindo de esquemas motores que levam
a troca entre organismos e meios, através do processo de adaptação progressiva.
Neste quesito, os mestres tem como papel principal, introduzir situações que
provocam equilíbrio nos alunos, respeitando cada etapa do seu desenvolvimento
natural, ensinando-os a observar, investigar e determinar inter-relações.
Considera-se ainda que o mestre neste caso, é identificado como orientador, que
propõe situações problemas, instigando a busca por soluções de características
próprias, respeitando as fases do desenvolvimento em si. Tratando-se na verdade
de um mediador que envolve e estimula a cultura do aprendiz.
CONCEITO
AMBIENTALISTA
Para Hilgard (1998), Trata-se da ideia
original ou conceito de que o aprendiz é considerado “uma folha em branco”, que
começa a ser preenchida ao iniciar sua frequência escolar, adquirindo
conhecimentos que não possuía. O mestre é identificado como o “dono do
conhecimento” e o aprendiz não possui conhecimento algum, aprendendo ou não com
o mestre, dependendo inclusive da sua vontade e conhecimento verdadeiro; o que
não permitiria por exemplo, em nenhuma circunstância, qualquer tipo de
contestação. Sendo o aprendiz induzido a memorizações, repetições, incluindo ai
os exercícios pré-relacionados. Neste quesito, a experiência do mestre é
imprescindível; e todos os fatos relacionados ao conhecimento devem ser
sensoriais e o processo de conscientização é gerado principalmente pelos
estímulos presentes numa situação que induz a determinados comportamentos. Um
dos aspectos principais da ideia ambientalista está também diretamente
relacionada aos elementos presentes no processo de ensino, que torna possível
controlar o comportamento e aprendizado, dos quais dependem o sucesso ou
insucesso do aprendiz. Dessa forma, tanto o ambiente como o mestre são quem
programa propriamente o ensino e controla os respectivos níveis. Resumidamente,
existem dois ditos populares que embasa tal conceito: “É de menino que se torce
o pepino” e “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
CONCEITO
INATISTA
Conforme Pozo (1998), esta ideia
original ou conceito, mostra que o ser humano é considerado um sujeito que já
nasce pronto, com seu potencial já definido. O papel tanto da escola como do
mestre é o de facilitar as manifestações já contempladas e inatas do aprendiz,
induzindo a fluidez natural do conhecimento, produzindo situações que
demonstrem experiências desenvolvedoras através do conhecimento, visando
somente a verificação do nível de aprendizagem, e culminado com a indicação de
que é o aprendiz que determina o meio. Por tratar-se da tese de que a
capacidade cognitiva básica do aprendiz já está pronta por ocasião do seu
nascimento, sua capacidade cognitiva também já está definida geneticamente; o
nível de raciocínio preexiste, sendo que a participação tanto do meio como do
mestre pode, no máximo, acelerar o processo. Outro fato relacionado a este
conceito, é que as estruturas mentais já estão totalmente formadas e
organizadas de tal modo que não são induzidas pela razão humana, considerando
ainda que cada individuo já “nasce pronto”. Todavia, há de se considerar ainda,
que as bases deste conceito é constituído pelo tripé: formação biológica,
aptidão e prontidão. Em contrapartida, se fosse possível resumir este conceito
também, em dois ditos populares, diríamos: “Pau que nasce torto, morre torto” e
“Filho de peixe, peixinho é”.
CONCLUSÃO
Desde o início dos tempos, todo
processo de aprendizagem vem se modificando e adaptando-se às circunstâncias
que os cercam, indicando assim a necessidade de que os mestres e tutores
acompanhem tais transformações. Dentro dos conceitos aqui citados há de se
ressaltar as diferentes fases de mudança que podem levar os facilitadores do
processo de aprendizagem a parar e refletir sobre que “tipo de material humano”
tem em mãos; procurando na verdade desviar-se do enfadonho e desestimulante
processo sem distinção situacional que na verdade não leva a nada além da
prática também enfadonha do processo de ensino.
O processo bem sucedido de
aprendizagem, se observado, deveria tornar-se consciente ao educando para que
fosse reforçado e para que pudesse ser relembrado quando necessário. Todavia,
não é o que normalmente ocorre. (MACHADO, 1992).
Dessa forma, tanto a repetência, em
detrimento até do processo de “aprovação continuada”, evasão escolar e o
desinteresse por parte do aprendiz, pode e deve ser minimizada, levando-se em
conta a interação de todos os aspectos que envolvem o processo de aprendizagem
em detrimento do desenvolvimento cognitivo do aprendiz e as interações com os
mestres que embasam seus conhecimentos no processo educativo. Não importa a
época, nem o mestre nem o aprendiz, fato é que o que realmente leva ao processo
educativo, no mínimo satisfatório, é o que está sendo abordado de forma
consciente e alegre durante o processo. Ainda dentro destes destaque do
processo de aprendizagem, há de se afirmar que no quesito “ensino de
matemática”, poucos percebem, infelizmente, que existe um enorme contingente
tanto de alunos como professores, que apresentam dificuldades tanto no processo
de ensino como no de aprendizagem, e em muitos casos não sabem e nem tentam
lidar com estas situações. Poucos percebem que tudo está relacionado ao
cotidiano e com as mudanças da sociedade tanto nos princípios sócias como nas
inovações tecnológicas do dia-a-dia. Todavia, há infinitas afirmações que
reconhecem a importância da matemática para a formação do ser humano ou o
individuo em si.
Por meio da matemática é que o homem
constrói a si próprio, e é através dela que os instrumentos para o
desenvolvimento de sua personalidade intelectual e de sua educação moral é
embasada. (MACHADO, 1992).
Respeitando qualquer dos conceitos que
possam ser atribuídos a cada individuo, pode se afirmar que o desenvolvimento e
aprimoramento do processo tanto mental como natural e até mesmo moral, no que
depender da forma de aprendizado principalmente da matemática, o levará a
percepção e compreensão do mundo que o cerca, e o potenciará, no que depender
de si e de seu processo e aprendizagem, a contribuir com uma sociedade melhor e
mais justa sob todos os aspectos.
BIBLIOGRAFIA
BITTENCOURT, Ricardo Luiz de.
Concepções de aprendizagem e suas repercussões sociais. 1994. Monografia
(Especialização) – Fundamentos da Educação. Universidade do Extremo Sul
Catarinense, Criciúma.
D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação
Matemática da Teoria a Prática, 8. Ed. São Paulo: Papirus, 2001.
LIMA, Lauro de Oliveira. A Construção
do Homem Segundo Piaget: uma teoria da educação: São Paulo: Sumus, 1984.
MACHADO, Maria G. De Bom. Dificuldades
Encontradas Pelos Alunos de 5a. a 8A. série no Processo de Aprendizagem da
Matemática, 1992. Monografia (Especialização em educação matemática),
Universidade do Extremo Sula Catarinense. Criciúma.
HILGARD, Ernest Rapiequete, Teoria da
Aprendizagem: Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
POZO, Juan Ignácio. Teorias Cognitivas
da Aprendizagem. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1998.
Fonte: Artigos.com
Um jeito diferente de ensinar e aprender.
Valdivino Sousa é Professor, Matemático, Contador, Bacharel em Direito, Pedagogo e Mestrando em Educação. Editor do blog Valor X Matemática News, e escreve sobre: Educação Matemática, Didática e TICs na Educação. E-mail: valdivinosousa.mat@gmail.com 🖼Instagram: @valdivinosousaoficial 🔯Veja Biografia